segunda-feira, 29 de junho de 2009

transmissao de "Newark" (1987) para estudantes da FAC/CNDC "Newark/Re-Worked" (2009)


Michelle- Quais são as operações utilizadas para realizar a transmissão de “Newark/Re-Worked” ?

Stacy Spence(1)-
Antes de começar a transmitir a coreografia, nòs estàvamos trabalhando no sentido de dar a todos o mesmo modo de “ler o corpo”, o mesmo modo de “como” usar o corpo. Dessa forma quando começamos a fazer a coreografia, todos tinham uma linguagem comum, isto é, uma mesma “pàgina” mesmo com diferentes possibilidades. A partir dai começamos a aprender os movimentos da coreografia original, que também ajudam a informar a aula que dou pela manhã, que por sua vez informa o movimento da coreografia, enfim, é um trabalho em cadeia. Isto porque a coreografia està lidando com certas propriedades mecânicas do corpo bem especificas, e trabalhar especificamento sobre isso, ajuda a transpor a idéia do movimento dele mesmo, para a relação com o espaço e com as outras pessoas. Então eles estavam aprendendo as frases de movimento, até tê-las muito bem conhecidas, para depois aprender a coreografia. O primeiro modo de aprender a coreografia, foi através do video da coreografia original, repetindo exatamente o que estava no video. Agora, olhando pra tràs, acho que foi uma boa estratégia, pois deu aos dançarinos mais informações sobre como usar seus corpos, pois eles estavam diretamente absorvendo o que jà tinha sido feito depois de muitas experimentações e tudo o mais, e eles puderam captar o “espìrito” do que é esperado para “Newark”. Essa primeira seção que eles aprenderam é a ultima parte da coreografia.

De là, eles aprenderam mais frases, e ao invés de aprender através do video, nòs trabalhamos sobre as « idéias de composição » relacionadas ao espaço : ficar perto de alguém, ficar longe de alguém; como você trabalha com alguém perto; como o espaço muda e o quê està disponivel pra você nesse espaço; quais são as escolhas que podem ser feitas. Então nòs improvisamos, e eles ficaram realmente bons em improvisar, primeiro fazendo escolhas especiais em posições simples como sentar, ficar de pé, andar, rolar, sempre tendo em mente que as escolhas estão sendo feitas em relação as outras pessoas. Essas improvisações foram fixadas em movimentos e frases sempre tendo em mente as escolhas espaciais que devem ser feitas. Depois de tudo memorizado, tivemos que refinar um tipo de instinto, que ajudasse a lembrar porque você fez essas escolhas, quais foram as escolhas, e recriar novamente, ai então estava realmente fixado. Passamos a trabalhar em pequenos ajustes, memorizando novos detalhes, e eu fiquei o tempo todo como o « olho de fora », atento para as oportunidades mas mantendo tudo relacionado como a idéia original, porque todo mundo tem suas idéias individuais sobre o quê a obra é, e como é. Então esse foi o modo como eu trabalhei como a « pessoa de fora », que mantém sobre controle as idéias que Trisha Brown trabalhou originalmente. E muitas dessas idéias são mais simples que muitos bailarinos pensam. E foi assim que terminamos com todas as outras seções. Cada seção lida com o espaço diferentemente, as duas primeiras seções chamadas « horses » lidam com um espaço onde duas pessoas devem manter o espaço entre elas, mudando isso algumas vezes, e depois finalizar isso enquanto outras duas pessoas estão livres, mas eles precisam manter-se proximos e distantes. Na pròxima seção, o espaço é limitado e pequeno, em que todos devem ocupar ao mesmo tempo. E na ùltima seção, todo o espaço é usado, existem unìssonos e a idéia de mover-se e mover pessoas como se estivessem movendo mobilias de uma casa.

Michelle- Em que medida que as idéais que moveram a criação original, estão também movendo esta transmissão ?

Stacy Spence-
Eu definitivamente tento não tomar liberdades. E novamente, se eu percebo os bailarinos tomando liberdades, e entrando em lugares que eles estão acostumados, os padrões pessoais que nada têm haver com a coreografia, eu tentarei puxà-los para a proposta, o corpo de « Newark ». A coreografia é sobre « formas » sendo movidas, e também ser sensivel ao contato, mas não é necessariamente sobre estar junto se misturando uns aos outros, como uma improvisação de contato. Quando isso aparece preciso estar atento para remover esse tipo de padrão. Pessoalmente sempre tendo manter tudo bem pròximo da coreografia original, pelo menos o que tenho de conhecimento da obra original.

Michelle- Como as obras de Trisha Brown começaram a sair da companhia ? Como « Newark » veio para Angers ?

Stacy Spence-
Tem um pouco haver com a idéia de « nossos clàssicos ». Tem alguns trabalhos da companhia que as pessoas pedem por verem algo de essencial, como uma ferramenta de aprendizado, ou porque a coreografia faz uma impressão forte, ou fez uma forte inovação que pensam ser importante. E como « Set and Reset », que no momento em que foi criada abriu a idéia das pessoas para outras possibilidades de se entender uma coreografia.« Newark » é outra peça que parece ter marcado algo importante : Isso é algo que é claro e diferente do que tinhamos visto antes. Tem alguma coisa importante aì.». E para Angers…David(2) realmente gosta da peça, e ele gostaria que os estudantes pudessem experimentar fazê-la. E tem essa questão recorrente ao CNDC « Porque manter os clàssicos, ou porque ensinà-los. » Acho interessante porque tendo estado perto dos estudantes, e ter ensinado, me faz perceber que a peça ensinou-os muito sobre como usar seus corpos de uma maneira, que obviamente eles não tinham experimentado antes. E talvez essa estética tenha ido para um outro lugar atualmente, mas acho que tem algo de importante de aprender todas essas coisas, mesmo que velhas, pois se hà algo de forte nisso, são mais informações para você. Deve ter uma razao para isso ter sido marcado como um « clàssico ». E talvez você naum tire nada disso.. « Ah, eu rejeito esse clàssico !». Mas acho que é uma oportunidade. Pois você pode rejeitar outras coisas, que naum sao clàssicos, coisas de agora mesmo. E quando ensino « Newark », percebo que essa peça esta informando agora algo novo, mesmo que tenha sido feita à 20 anos atràs. Cada um tem seu proprio medo de experiências…
E se pensarmos em arte como algo maior que apenas nos mesmos… Lembrando que, todas essas coisas que em algum momento marcaram uma impressao forte no passado podem nos mover adiante… Entaum você naum esquece delas e apenas repete pensando que estah fazendo algo novo. Mantem-se conectado !

(1) Stacy Spence integrante da companhia de Trisha Brown. Esteve no CNDC/Angers, para realizar a recriaçao de « Newark » peça original criada em Angers em 1987, para os estudantes da FAC (Formation d’artiste chorégraphique) intitulada « Newark/Re-worked ».
(2) David Steele é diretor pedagogico da "Escola superior de dança contemporânea" do CNDC/Angers.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Seule importe l’oeuvre, mais finalement, l’oeuvre n’est là que pour nos conduire à la recherche de l’oeuvre."

Maurice Blanchot

Minha tradução/apropriação...

“O que importa é a obra, mas finalmente, a obra só está aqui para nos conduzir à pesquisa da obra.”

Em: LOUPPE. Laurence. Poethique de la danse contemporaine. Contredanse, 1997, Paris.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

De quase quases




Das estratégias fisicas...
Pensamento, dança, contact comigo mesma. Tudo isso se misturou um pouco e virou aqui alguma coisa, algumas coisas... Antônio Damásio foi de grande ajuda Ricardo, vc tinha razão. “A alma respira através do corpo, e o sofrimento, quer comece no corpo ou numa imagem mental, acontece na carne”. Acredito tanto, e sinto como se tivesse esquecido. Mas salvei isso em algum canto aqui dentro, e lembrei, senti, dancei. E a intimidade foi chegando pra esse lado também. O que seria uma intimidade do corpo, da carne...? um cheiro meu, um gosto em mim, uma dobra, um lugar escondido, um embaixo de alguma coisa, isso que não tem mesmo nome (salve Gilson Fukushima), nem voz, mas é corpo... e talvez não seja o caso de mostrar, mas de usar como impulso, como grito. De novo Damásio: usamos o corpo como “instrumento de aferição”, é a partir dele que sentimos o mundo e nos relacionamos com o mundo. Então vamos relacionar essas intimidades da carne com o mundo e gerar alguma coisa...

Dos objetos...
Pensei muito no que conversamos sobre entender a relação com os objetos como uma relação amorosa, quem escolhe e quem é escolhido, quem domina em quem se submete. Deu no noivo cadáver (e hoje acordamos assim, um pra cada lado...), este corpo vermelho cheio de fibra de poliéster, que eu costurei, feri, furei, pisei, abracei, pendurei, mordi, bati, dancei, amei... No diagrama ele começou no grupo dos “objetos-metàfora”, mas deu uma passeada pelos “objetos-meio”. O plástico branco me serviu bem ( os 8 metros), me lembra algo amarelo, mas desenvolvi com ele uma estratégia para me revelar aos pedaços...
E, finalmente, se vc tem seu sonho, eu tenho meu... pirulito (e o noivo tem 2, um em cada olho!).

Das referências...
Alice me é muito próxima. Seu mundo fantástico, suas perguntas descabidas, ela me inspira, me autoriza, me alimenta. A princesa dos cabelos mágicos eu estou procurando, e algo me diz que eu vou encontrar. E, claro, Tim Burton (nem lembro mais se fui eu ou vc quem falou dele primeiro) veio me visitar tantas vezes...

E por fim tenho que dizer que tudo se transforma mesmo nesse (agora um pouco meu) planeta quase nu, vamos ver o que sobrevive até o fim deste projeto...


e

“a dança é o que salva o movimento do clichê” – diz o adesivo na janela da casa da Helena.

o céu no ced...






Um quilo de fibra de poliester, uma tentativa de encontrar a princesa dos cabelos màgicos, um céu, e finalmente tudo foi parar dentro do vodu - o tal noivo cadaver...

domingo, 31 de maio de 2009

Quase Nu, se fosse seria... (versao da Beti)

Se fosse um objeto seria uma carta velha, escrita num papel de carta
Se fosse um prato seria lingüiça com farofa
Se fosse uma canção seria “too drunk to Fuck” Nouvelle Vague
Se fosse um personagem de ficção seria o pequeno príncipe
Se fosse um filme seria uma comedia romântica com a Julia Roberts
Se fosse um lugar seria uma gaveta
Se fosse um aviso seria “baseado em fatos reais”
Se fosse um elemento seria fogo
Se fosse um efeito seria insônia
Se fosse um vegetal seria uma mandioca
Se fosse um planeta seria mercúrio
Se fosse um advérbio de tempo seria então
Se fosse uma estação do ano seria verão
Se fosse um animal seria um gato preto
Se fosse um barulho seria um grito
Se fosse uma cor seria vermelho encarnado
Se fosse um clima seria quente e úmido
Se fosse uma roupa seria essas roupas de velcro para streap-tease
Se fosse uma fruta seria caju
Se fosse uma viagem seria um cruzeiro de navio pelo pais das maravilhas
Se fosse um amor seria uma coincidência rara (nao resisti!)
Se fosse um remédio seria um engov antes e um depois
Se fosse uma hora do dia 3h da manhã
Se fosse uma mulher seria Ivete Sangalo
Se fosse um homem seria Michael Jackson
Se fosse um quadro seria “Ceci n’est pás une pipe”, de Magrit
Se fosse um sapato seria uma galocha branca
Se fosse um talher seria uma faca
Se fosse um veículo seria um trem com um vagão so
Se fosse um mês seria fevereiro
Se fosse um metiêr seria carteiro
Se fosse um livro seria uma autobiografia
Se fosse uma citação seria “é necessàrio se emprestar aos outros e se dar a si mesmo” Montagne
Se fosse uma estampa seria geométrica tipo anos 80Se fosse uma parte do corpo seria o cù
Se fosse uma dança seria um axé coreografado

Sujeita a alteraçoes.
Afinal, uma das propriedades deste trabalho é a de estar "em transformaçao"...

PS.estou escrevendo num teclado francês, os acentos vao parecer estranhos ou inexistentes...

Sozinhando...



E cà estou eu, sozinhando com o universo Quase Nu do Ricardo. Já dancei muito, já corri atrás e na frente do meu pensamento, fiz contact comigo mesma, vesti e despi muitas cuecas vermelhas... e uma certa angùstia me acompanha nessa jornada. Como usar em mim as estratégias do outro? O que fazer se elas não me levam aos mesmos lugares quase nus? Criar novas estratégias para chegar a um lugar comum? Ou aceitar as distorções e os materiais outros que têm aparecido?

Encontrei por exemplo uma forma minha de me revelar aos pedaços, mas tenho que admitir que ela é um tanto quanto... amarela! Os trabalhos começam mesmo a se cruzar e se confundir.

Quando falei ao Ricardo sobre a massa em Amarelo, de onde ela veio e como foi habitando o trabalho, falei que ela era meu outro corpo, uma outra pele, um volume, um peso. Pois bem, antes de vir para o sitio comprei um pedaço grande de tecido vermelho, depois de experimentar tudo e mais um pouco com este material em estúdio, deitei em cima dele, peguei um pedaço de giz e desenhei o molde de um corpo (no caso: do meu corpo). Cortei, e cà estou eu fazendo um outro outro corpo, agora vermelho, agora de tecido. Meu duplo, meu display, meu vodu (e volto à Amarelo...). Faz três dias que me ocupo em costurar esse outro corpo, quando começar a usa-lo vou saber se ele serve mesmo para alguma coisa no trabalho. Mas o artesanato da costura já tem servido para uma meditação ativa sobre tantas coisas...

Re-assisti “Minha vida sem mim”, é emocionante, e me faz pensar mesmo na “formula da cumplicidade”. Os recursos do cinema parecem gerar com certa eficiência esse sentimento de empatia... Ela fala o tempo todo em primeira pessoa, da vida dela, das filhas, do marido, do amante, da mae, e eu não vejo egoismo em momento algum. Pelo contràrio, me pego chorando ou rindo em diversos momentos, completamente entregue. Talvez porque no filme eu possa “conviver” com as filhas, o marido, o amante, a mãe. Eu passo a conhecê-los também, e não so a pessoa que fala deles. E claro, ela està sob a ameaça da morte, o que lhe dà uma licença para ser piegas, sentimental, etc.
Para encontrar a “formula da cumplicidade” fiquei pensando nessas duas coisas: apresentar as coisas sobre as quais eu falo, para que elas se tornem pessoais e familiares também para o público, para que ele se apegue a elas de alguma forma, e contar com alguma situação maior (a ameaça da morte, uma bomba, um incêndio...) que pode atingir a mim, pode atingir o publico, e também tudo isso que apresentei como meu, que a essa altura já serà nosso. Parece confuso, e é. Mas se a “formula da cumplicidade” existe, ela deve passar por aqui...

Antes de dormir leio um pouquinho de Alice (para ter sonhos fantásticos), e ela também està fantasticamente confusa com perguntas: “gatos comem morcegos? E às vezes: Morcegos comem gatos?, pois sabem, como ela não sabia a resposta para nenhuma das perguntas, tanto fazia a ordem que lhes dava”.
Mas não deixava de fazê-las! E isso me parece importante. Enquanto não sei se a estratégia leva ao resultado ou se o resultado pede outra estratégia, continuo testando... e sozinhando...

Esse na foto ai em cima é o Barbosa, ele fica deitado ao meu lado, bebendo a água da piscina enquanto eu costuro...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Meu retorno ao CED – diário de bordo do primeiro dia

Enfim trocamos... Ricardo voltou para Curitiba, e eu cheguei hoje ao CED. Encontrei os sapos coachando, a casa vazia de gente, mas cheia das intimidades do Ricardo. Seis estratégias para mergulhar em seu universo Quase Nu: um CD para dançar, outro para “sozinhar”, uma pilha de cuecas vermelhas, Alices e Pinoquios, as “autofotografias”, e um dvd cheio de fotos e vídeos pessoais, com um bônus track da Noiva Cadáver (de Tim Burton). Me sinto acionando meu “estado Zelig” de aproximação do Outro.

A internet não està funcionando, o fogão està sem gás (o que me fez jantar um pacotinho de doritos), alguns problemas domésticos que eu so poderei resolver amanha... mas os sapos estão coachando là fora, e eu não paro de pensar no privilégio de estar aqui, e poder “residir” intensamente nossa pesquisa de linguagem.

Amanha começo o trabalho pràtico em estúdio, hoje vou dormir pensando em contradições... no casamento lindamente tétrico de Victor e Emily. Não me sai da cabeça a frase escrita no quadro do Adler: “linda, uma historia horrível”. ( esses dias falei pro Gustavo que esse seria um ótimo titulo, e ele disse “é mesmo, é o titulo de um texto do Caio Fernando Abreu!” Acho que vamos ter que ler esse texto também...).

(postado hj, dia 26, depois que o Thomas chegou, e com ele a conexão internet...)

Elisabete

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Enfim acho que ZELIG veio conversar comigo (ou eu fui até ele, sei lá)

Hoje percebo que foram precisos diversos dias de deglutição das conversas com Nirvana aqui em São Paulo para que algumas questões fizessem sentido. Não que naquele momento não fizessem (faziam muuuito sentido), mas foi trabalhando que sinto que algumas viraram literalmente CORPO.

Muito falamos e experimentamos da complexidade que é se aproximar do outro. Diversos receios permeiam essa discussão: o medo de perder-se nesse caminho; um cuidado e respeito pelo outro e seu universo (que muitas vezes é uma forma de manifestar mais um medo); os complexos e dolorosos medos do julgamento do outro; o receio de executar cascas do outro e nada disso ser interessante, potente, vivo.

A Nirvana, desde nossas primeiras conversas sobre esse projeto nos idos de 2008, nos fala de seu interesse por um filme de Woody Allen, chamado ZELIG (1983). Nesse filme, que assistimos na semana de trabalho com Nirvana aqui no CED, Leonard ZELIG (interpretado pelo próprio Allen) é um humano camaleão que se transforma fisicamente ao entrar em contato com o outro, assumindo algumas de suas características.




Para além de toda a história e de todas as metáforas que são apresentadas no roteiro, me parece que uma idéia nos é muito interessante nesse projeto: um deleite e uma tranqüilidade no fato de poder ser o outro.

Mesmo depois de todas as conversas me peguei novamente, em meio a sessões de trabalho no estúdio principalmente, me corrigindo com expressões como: “agora estou imitando a beti”, “isso é importante para ela, mas não é para mim” ou “eu preciso me encontrar nesse material”. Todas postulações que agora enxergo como covardes, ineficazes e em certa medida falsas.

Explico: não se trata de se anular e se perder diante do outro (nesse caso o outro é o universo amarelo), mas sim de assumir a complexidade que pode ser esse “ser o outro”. As vezes me vejo numa contradição quase esquizofrênica: se por um lado me esforço para me aproximar do amarelo de todas as formas, por outro tento me afastar dele quando tenho esses violentos desejos de “me colocar”, de “tornar isso meu”.
Eu estarei ali de qualquer jeito. Não preciso forçar uma barra para que isso apareça. Já está dado. Me parece que o caminho é mesmo o de se permitir ser o outro, pois vejo nesse permitir-se um mecanismo de recriação. E não o contrário que seria dado pela afirmação “quero me apropriar do universo amarelo”.

Sei que pode parecer confuso, mas precisava partilhar isso com vocês, pois durante uma experimentação aqui ontem me senti meio ZELIG, tranqüilo e curioso por estar ficando amarelo (e por conseqüência ficando meio Beti Finger), ainda que tal sensação não tenha durado muito tempo. (o que é bom dura mesmo pouco).

Ricardo, 21.05, CED)

Sobre o do ZELIG no youtube:
cena de transformação
http://www.youtube.com/watch?v=3W2iSyLpr-o&feature=related
trailer (é muito engraçado)
http://www.youtube.com/watch?v=KcvuzdG9WfY
teaser
http://www.youtube.com/watch?v=fsjt-lNtSfg&feature=related

terça-feira, 19 de maio de 2009

Coincidências Amarelo-quasenuas

Como também já indiquei em posts anteriores, a personagem Alice, de Lewis Carroll (composta num trio entre ela, Piniquio e Pequeno Príncipe), é uma referência bastante presente no meu imaginário quase nu.

Estou retomando o trabalho com o estar quase nu (o que é uma tarefa bastante confusa depois desse tempo imerso no amarelo) e naveguei um pouco para também entender mais dessa pequena com imaginação tão violentamente fértil. Dois momentos-metáforas me interessam de cara na personagem: 1. a longa queda que a leva até o país das maravilhas, especialmente a partir do momento em que já não sente mais medo da queda pois perde a sensação de um dia vai chegar ao fundo; e 2. a licença que dá a si mesma quando passa para o outro lado do espelho (já na segunda obra de Lewis dedicada a Alice). No mundo dos espelhos Alice se sente livre para ser o que quiser ser, já que imagina que "seu eu verdadeiro" está do outro lado do espelho.

Estou procurando formas de potencializar fisicamente estas já tão fortes metáforas textuais, e nessas andanças descobri que Lewis construiu o personagem baseado em uma menina de verdade. Tem histírias lindas sobre essa relação, que me ajudam a ler os livros de outra forma. Por exemplo: o cavalheiro que se despede de Alice no país do espelho é o próprio Lewis. Bom, sou mesmo apaixonado pelas metáforas.

E a imagem da menina-moça também me inspira um tanto.




Maaaaas a coincidência não é essa.
No meio das buscas descobri que uma nova adaptação das histórias de Alice está, neste momento, sendo gravado no cinema. Adivinha por quem? TIM BURTON!
Sim, as gravações começaram no ano passado e o filme tem previsão de lançamento para março de 2010, apresentando diversas adaptações no roteiro. Alice tem 19 anos (eu juro que tive a idéia de transformá-la em adulta para meu conto antes de ver essa notícia, o que aconteceu ontem) e se apaixona pelo chapeleiro louco, papel de Johnny Depp. Estão no elenco ainda Helena Bonham Carter (rainha vermelha), Anne Hathaway (rainha branca), Matt Lucas (os gêmeos). Alice é interpretada por uma novata australiana de 18 anos, Mia Wasikowska.

Ok, central de notícias a parte, fiquei muito feliz de ver que até no cinema os universos quase nu e amarelo estão se cruzando, não é incrível?
Quero muito ver.

Abaixo uma imagem que é a imagem de abertura de um game americando inspriado na Alice.
Atenção especial para o objeto que Alice tem na mão.



(Ricardo, CED, 19.05)

Os corpos sensoriais de Tim Burton


Como já indicado em posts anteriores escritos pela Beti no momento em que realizava algumas de suas traduções, algumas imagens de Tim Burton informam questões que se fazem presentes no amarelo. Especialmente algumas contidas no livro "A morte melancólica do rapaz ostra & outras Estórias". Para quem não conhece, é um livro belíssimo de pequenas histórias de personagens esquisitos, melancólicos e com uma característica especial em comum: um corpo sensorialmente modificado.

A exposta aí, minha favorita por enquanto, é a "A rapariga com muitos olhos". A imagem dela me provoca um desejo e um estado físico-percepetivo que me interessa. Mais uma vez executando minha licença para antropafagizar, digo que quero chegar fisicamente ao "Rapaz com muitas bocas". Ainda não me sinto a vontade para utilizar meus dotes de desenhista para desenhá-lo, mas pretendo fazê-lo em breve.

No livro tem também a "rapariga de olhos fixos" (que vence um concurso local de olhar fixamente); "o rapaz com pregos nos olhos"; "a rapariga vodú" (ver post da Beti) e claro, o protagonista, dono da mais longa história, "o rapaz ostra".

Rapidamente me dei conta que este padrão, de produzir uma fisicalidade sensorial esquisita sem para isso deixar de garantir características humanas, é uma característica recorrente em Burton. E me parece que é nesse ponto, DA CONSTRUÇÃO DE UMA SENSORIALIDADE OUTRA, ESPECÍFICA E DIRIA QUE EMOCIONAL, é que me parece estar localizado o cruzamento entre Amarelo e Tim Burton.

Interessado em esmiuçar esse universo e buscar formas de experimentá-lo, assisti novamente alguns filmes de Tim e li algumas coisas a seu respeito. Assisti, pensando nessas questões, "O estranho mundo de Jack" (1993); "Edward mãos de tesoura" (1990); "A noiva cadáver" (2005) e "Sweenwy Todd: o barbeiro demoníaco da rua Fleet" (2008).

Sem sombra de dúvida os mais inspiradores são os estrelados por Johnny Depp (Edward e Sweeney Todd). Por vários motivos me sinto instigado: por não serem animações, os filmes tem um apelo físico-humano-sensorial mais forte. Os personagens centrais são humanos estranhos e com uma forma de vivência sensorial próprias. As mãos de tesoura de Edward viram mais tarde as navalhas de Sweenwy Todd. O que era parte vira extensão (o próprio barbeiro afirma, ao empunhar sua navalha, que só com elas é um ser completo). Me parece que Sweeney é uma retomada, atualizada e mais violenta de Edward. E vejam só: OS DOIS TEM FACAS NAS MÃOS! Facas, que tem me sido tão instigantes em meus últimos dias de trabalho.

Edward usando-as só com a intenção de fazer o bem, de se ajustar.
Sweeney usando-as com a intenção matar, para se vingar.

Enfim... vou caminhando com Burton debaixo do braço a partir daqui.

(Ricardo, CED, 19.05)




sábado, 16 de maio de 2009

BREVIÁRIO (Primeira versão do Ricardo)

Auto-Breviário amarelo

Um planeta, um espaço, um universo imaginário. Um conjunto desenfreado de desejos. Comer e cagar a mesma comida. Mordida. Pelo cú e pela boca. Pela boca e pelo cú. Buraco, vão, uma distância, uma ausência. A sugestão de um bom plano de fuga. De bicicleta. Vó, vedete, ventania, ave. Ave Maria. Cadê? Aqui é sempre veloz, voluntarioso, vulcânico. Cigano. Veio da cigana: cachorros não gostam de gente ruim. Mais uma vez. Mais uma massa. Amassando mais uma massa. Família, fevereiro, futilidade, faca. Faca. Furar, ferir, ferido, fera. Fera ferida. Safadeza, selvageria, urgência, demência. Violência. Faca. Intensa, tensa, tesa. Tesão. Transformação. Um pé descalço, um olho, dois cotovelos e duas mãos. Duas mãos dadas: muito prazer em conhecer-nos, eu vou bem obrigado. Um portão no muro de concreto (por onde agora passa uma borboleta amarela).

(CED, 16.05)

Lista do Ricardo para AMARELO

Aproveitando o embalo da Mi, posto minha lista para o Amarelo, que fiz nos últimos dias. Foi uma terefa bem difícil, pois tivemos contato com muitas listas até aqui (umas 10 para cada trabalho, contando com as entrevistas feitas pelo neto). Assim fica tudo misturado na cabeça...
Outra dificuldade é que as vezes me pego falando sobre a beti e não sobre o amarelo (sem roubar, ricardo!)
Bom, lá vai:

Se fosse um objeto um caderno de desejos
Se fosse um prato um quibebe (carne seca com abóbora) suavemente apimentado
Se fosse uma canção o quereres (na voz da Bethânia)
Se fosse um personagem de ficção moça com brincos de pérola
Se fosse um filme moça com brincos de pérola
Se fosse um lugar cabo polônio num dia de sol
Se fosse um aviso entre
Se fosse um elemento terra
Se fosse um efeito transformação
Se fosse um vegetal cacto
Se fosse um planeta Vênus
Se fosse um advérbio de tempo agora
Se fosse uma estação do ano outono (com desejos de primavera)
Se fosse um animal pantera
Se fosse um barulho sussurro de um segredo
Se fosse uma cor amarelo
Se fosse um clima quente e úmido
Se fosse uma roupa vestido estampado e discretamente insinuante
Se fosse uma fruta mexerica
Se fosse uma viagem seria longa e solitária
Se fosse um amor seria táctil e intenso
Se fosse um remédio chá de erva cidreira
Se fosse uma hora do dia 10 da manhã
Se fosse uma mulher uma mistura de BB e Gabriela (cravo e canela)
Se fosse um homem Caetano Veloso (antes do fim da década de 70)
Se fosse um quadro antropofagia (Tarsila)
Se fosse um sapato sandália de couro
Se fosse um talher colher
Se fosse um veículo bicicleta com garupeira
Se fosse um mês fevereiro (acho que no final)
Se fosse um metiêr cinesiologista
Se fosse um livro Perto do coração selvagem
Se fosse uma citação “Sou da família dos batráquios: através da barriga, vísceras e mãos, me veio toda a percepção sobre o mundo.” (Lígia Clarck)
Se fosse uma estampa abstrações compostas de elementos bem figurativos
Se fosse uma parte do corpo boca
Se fosse uma dança uma polka virando maxixe

colocando Hijikata na roda para cruzar com Amarelo e também Quase Nu.


Michelle.

Quando vi « Hosotan » (1972), uma coreografia de grupo de Hijikata Tatsumi, vi algumas semelhanças em relaçao ao « Amarelo » e aos interesses da Beti - as mulheres sao galinhas vestidas (de quimono) e os homens sao Faunos. Ligeira conexao, porém me seduzi com a brincadeira. Dias depois, durante uma conferência sobre Butô com Patrick de Vos, assiti um video de um dos happenings de Hijikata. E lah estavam, muito homens, somente homens, vivendo experiências que deixa claro a fascinaçao dele por criar estratégias que produzam SENSAçOES. Percebo o amarelo, massa, goiabada, galinha também como intensificadores de sensaçoes.
Entaum agora vou listar algumas operaçoes/estratégias de Hijikata que acabaram por construir sua poética pessoal e também do Butô.


Lista Hijikata (com explicaçoes !)

Gesso – colar gesso ainda molhado sobre a pele, e deixar que endureça. O endurecimento provoca dor, a sensaçao provoca estados fisicos e de movimento especificos. O curioso é que depois o “corpo pintado de branco” virou uma maquiagem usual do Butô.

Galinha – animal bem presente em suas criaçoes. Ele conhecia super bem o comportamento de uma galinha ! No happening que vi em video, a galinha aparece andando sobre uma linha branca, pois uma vez que elas estaum sobre a linha nunca mais saem dela (essa foi a explicaçao do Patrick de Vos). A galinha também representa a conexao de Hijikata com sua cidade natal, uma pequena cidade totalmente oposta ao modernismo de Tokio em 1952, ano em q ele lah chegou.

Um bolo bem açucarado – outra estratégia sensorial.

Linguagem/Palavra – « O corpo é metafora para as palavras, assim como as palavras sao metaforas para o corpo » . Para construir um outro corpo, experiencial, Hijikata sentia a necessidade de construir uma outra linguagem. Ele era fascinado por poesia. Escrevia muito. E as instruçoes para movimento sempre partiam de metaforas, palavras, poemas.

Amor homessexual / travesti – dissoluçao da noçao de gênero. Naum identificaçao.

Referências fortes : Neo-dada, Surrealismo, Teatro pobre de Artaud, Jean Genet e Mishima.

Uns pensamentos - O feio é bonito. Morte é vida. Estrangular o tempo. « 1+1=3, mas as pessoas continuam querendo ser um. »

Aqui vai um link Youtube de um trecho de "Hosotan", de Hijikata.
www.youtube.com/watch?v=mcaot0-deck&feature=related

Lista para QUASE NU



Michelle.

esperei esquecer da lista que o Ricardo fez sobre o Quase Nu, para fazer a minha propria versao. Lah vai!

Se fosse um objeto seria espelho q mostra potenciais futuros
Se fosse um prato seria shiitakes na manteiga fumegantes embrulhados em papel aluminio
Se fosse uma canção seria 3 hinos em um soh : de amor, religiao e guerra
Se fosse um personagem de ficção seria uma fada valente (sem sexo nem idade) sobre um gaviao lilàs
Se fosse um filme seria Cremaster (de Matthew Barney)
Se fosse um lugar seria uma pista de dança ao céu aberto, dentro de uma esfera transparente, cheia de luz. Tanta e tanta luz que quase naum se pode enxergar.
Se fosse um aviso seria « Perigo : corrente elétrica »
Se fosse um elemento seria cristal
Se fosse um efeito seria um que produz outro viagem interespacial e « Esse naum é o Ricardo ! »
Se fosse um vegetal seria um cogumelo
Se fosse um planeta seria Marte
Se fosse um advérbio de tempo seria agora como se estivesse olhando pra si do futuro
Se fosse uma estação do ano seria Verão de Salvador da Bahia
Se fosse um animal seria um unicornio
Se fosse um barulho seriam os do estômago/instestinos sintetizados em uma musica eletrônica
Se fosse uma cor seria qualquer uma muito brilhante a ponto de se fazer branca.
Se fosse um clima seria primavera gerando uma « Revoluçao dos Poléns » (nome na coreografia de Akira Kasai)
Se fosse uma roupa seria sem roupa, sem pelos, sem pau. Um colar grande como de um Farao.
Se fosse uma fruta seria um morango
Se fosse uma viagem seria através de um portal dimensional
Se fosse um amor seria de familia
Se fosse um remédio seria MDMA
Se fosse uma hora do dia sem tempo, sem relogio
Se fosse uma mulher seria Bjork
Se fosse um homem seria Matthew Barney
Se fosse um quadro seria …. Uma escultura minimalista feita de luzes de néon
Se fosse um sapato seria o DG vermelho, porém feito da sua propria carne e osso, um pouco de pele também
Se fosse um talher seria uma faca
Se fosse um veículo seria o gaviao lilàs
Se fosse um mês seria fevereiro em Salvador
Se fosse um metiêr seria aprendiz do amor universal
Se fosse um livro seria de meditaçao ativa
Se fosse uma citação seria « Estamos sendo uma experiência ! »
Se fosse uma estampa seria um raio x no proprio coraçao
Se fosse uma parte do corpo a de dentro
Se fosse uma dança seria a que se pode fazer porque se tem um corpo

Massa 3: o pão.



Desde que comecei a fazer as diversas massas para trabalhar, algo nesse labor me tinha algo de nostálgico. No começo achei que essa nostalgia tinha relação com o fato de ter acompanhado o feitio dela pela Beti durante tantas vezes nos últimos anos, mas aqui percebi (não ocasionalmente) que não é só isso.

Gosto muito de cozinhar e sei fazer diversos pratos. A maioria deles, em especial as massas e farináceos em geral, aprendi a fazer com uma de minhas avós, nona italiana com todas as letras. Fazer a massa me lembra ela e nossas tardes sovando massas de pão, nhoque, sfiha, sonho. Pensando nisso e nas experiências de beti com seu pão amarelo, fiz aqui meu pão, minha receita.

A massa me faz descobrir uma evocação importante: minha infância com a vó leandrina.
Mais um ingrediente para esse meu universo amarelo.

(CED, 16.05)

Massa 2: algo de estranho está estranho.


A massa é fofa, confortável, bonita, macia. Tende para uma imagem poética e carinhosa. A faca é fria, um tanto assustadora, insegura. Ela corta, fura, divide. Tende para uma imagem tensa. Nessa relação (que talvez produza uma terceira coisa, mais estranha que as duas separadas) encontro algo mais perto do meu corpo interte e de uma experiência viva com isso.
Por que unir seria melhor do que despedaçar?

(anotações, CED, 16.05)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Vazio, molde, massa, corpo inerte.


Os formatos dos vazios que dividem espaço com tudo que mora em mim são metamórficos e violentos. Um corpo bomba que dá vida a meus mais esquistios imaginários, meus mais concretos desejos e minhas mais apelativas metáforas. Será que isso vale?

Na verdade não sei se este vazio é morto. As vezes ele parece tão presente e imperativo que me indica vida própria. É. Talvez meus vazios sejam vivos e dividam comigo a dominância dessa casa que sou eu.

Vazio não combina com unidade. Pelo menos aqui em mim não. O vazio é fugidio, escorregadio, metamórfico, camaleão e espaçoso. Combina mais com buraco. Talvez buracos, pedaços, passagem. Isso, passagem.

Dar uma vida material aos meus vazios (e uma massa de 5 kilos é uma vida material considerável) é um ótimo pretexto. ricardo, por favor se concentre nisso: é um pretexto para uma experiência, não um texto metafórico (três asteríscos aqui).

Espalhar, fazer um grande buraco, pegar com cuidado o que vai se despedaçar de qualquer jeito (meu vazio não é mesmo um todo coerente), recolher os pedaços, seja amável e seja violento, dê um abraço e um amasso, pendure a massa sem que as pessoas vejam ela (lembro, mais uma vez da vera mantero e seu pé de cabra), molde mesmo aquele seu terror, enfrenta ele! Comê-la e cagá-la. Um manto que cobre a distância entre meus pés e os meus olhos. Ofereça a parte do corpo que você não tem, proteja-se com seu vazio de sua própria vontade de se morder. Pedaço, cegueira, bebê, cocô. Tudo escorrendo do sexo.

(Anotações esparças do meu caderninho amarelo, CED, 15.05, Ricardo.)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Respondendo ao post anterior do Ricardo e já atualizando sobre as minhas investidas “quase nuas” aqui em Curitiba...

Pra começar, devo dizer que, depois da semana no CED, fica gritante pra mim o quanto é muito muito difícil manter uma rotina intensa de trabalho na cidade onde a gente mora, onde tem cafofo, imobiliária, comunidade artística, curso de cinema, reunião do cafofo, reunião da imobiliária, reunião sobre políticas públicas com a comunidade artística, reunião do curso de cinema, + a mae, a casa, a louça, as plantas... e agora o gesso no braço! Ai mundo, para que eu quero descer...)

Mas, consegui sim ir trabalhar um pouquinho no estúdio, e continuar as leituras e devaneios. O primeiro dia passei investindo “o prazer de dançar”, com as músicas selecionadas pelo Ricardo num cd que eu adoro. Descobri, entre outras coisas, que meu prazer em dançar está muito associado ao prazer de cantar. Acho que tem alguma coisa aqui, vou investir...
hoje foi o segundo dia e lá vou eu tentar encontrar uma qualidade de movimento para o meu pensamento. Isso foi duro... enfim, tô investindo nesses dois materiais como prática, ainda não consigo falar sobre o que eles geram ou como se desdobram em mim.

Sobre Brigitte em “...e Deus criou a mulher”. adoro duas cenas em especial: um momento super rápido quando ela é apresentada à família, e está sentada desleixadamente numa cadeira/poltrona no fundo do quadro abrindo e fechando um guarda-chuva, e outra quando ela desce do quarto na lua de mel, e aparece no meio do jantar enrolada num lençol, enche uma bandeja, pega um pedaço de frango na mão, e sai dizendo que eles sentem muita fome depois de fazer amor...

Sobre Anna karina:
Se vc digitar « vivre sa vie » vai aparecer a cena da conversa de Nana com o filósofo. O link é esse: http://www.youtube.com/watch?v=co-c5gPWfiM
O olhar é perto dos 08’18’’

Se digitar “Le plus beau regard camera” vai direto para aquele breve e fugaz instante, le plus beau du monde... http://www.youtube.com/watch?v=wkYWSOYlHIo
Mas eu aconselho ver a cena inteira.

E ainda vale dar uma olhadinha em:
http://www.youtube.com/watch?v=neXlHOLPAHE&NR=1
Anna karina et Serge Gainsbourg! Je ne peux pas...

Vou rever « minha vida sem mim » e procurar « ma vie en rose »!
(ficou engraçada essa frase...)

C’est tout pour l’instant.

Beti

quarta-feira, 13 de maio de 2009

O estudo da própria obra

Já faz mais de um mês que estive em Curitiba numa semana intensiva de tradução com Beti e Ricardo. Minha intenção neste post é colocar em evidência alguns aspectos relacionados a minha intervenção no projeto e reflexões sobre o processo tradutório das obras-próprias Amarelo e Quase Nu.

Parece-me agora que o desdobramento mais destacado da fase de tradução do projeto foi a compreensão do próprio trabalho, da obra. Beti comentou sobre o “poder performativo” da obra e da sua autonomia em relação ao autor. Deve-se levar em consideração a diferença entre tomar como ponto de partida da tradução a obra, aquilo que se dá a ver ao espectador, ou, além dela, os diversos aspectos envolvidos no processo de criação da obra. Uma tradução deve ser feita a partir da obra e não dos elementos que estavam presentes em sua criação, pois eles estão confinados na imaginação do autor e só existem como aparecem materializados na obra. O problema é: como olhar para o próprio trabalho? Com que ferramenta?

Beti colocou o Amarelo como um “sistema multi-níveis”, distribuído em diversos níveis de descrição ou organização. Ricardo apresentou no “diagrama do Quase Nu” os níveis que ele identificou em seu trabalho. A idéia de que a dança pode ser entendida como um sistema subdividido em níveis não é uma idéia nova. Rudolf Laban, em sua Análise do Movimento criou categorias (corpo, movimento, esforço e forma) e subcategorias para descrever cada um dos componentes do movimento. Este sistema de descrição já foi muito usado na observação analítica de dança. Entretanto, a idéia de sistemas multi-níveis tem outro background. Nos artigos escritos em colaboração com João Queiroz(1) sobre tradução intersemiótica(2) nos inspiramos em Stanley Salthe, que, muito sumariamente, afirma que um fenômeno pode ser descrito como uma hierarquia de níveis. Sugerimos, assim, que uma tradução pode ser compreendida como uma relação entre sistemas multi-níveis. Esta noção nos pareceu interessante como uma ferramenta para a descrição do fenômeno de tradução, pois, além de considerar os níveis da obra, considera as relações entre eles, que especificamos caso a caso. Em termos teóricos nos parece bastante produtivo este caminho, pois nos permite comparações mais precisas entre a obra traduzida e a obra tradutora.

Foi interessante utilizar esta ferramenta como parâmetro na prática de tradução. O exercício com Ricardo e Beti, com minha colaboração, foi de identificação dos níveis de seu próprio trabalho. Além de proporcionar mais parâmetros para a as traduções que produziram, o exercício se mostrou interessante, especialmente no caso do Quase Nu do Ricardo que ainda está se modificando bastante, como uma possibilidade de ferramenta do processo criativo. Entender o que o produto criado é auxilia a entender se o objetivo está sendo alcançado.

Em nossos textos (Queiroz & Aguiar), consideramos que os níveis de uma obra de dança seriam identificados como itens gerais da obra, como “dinâmica de movimento”, “ritmo”, “iluminação”, e que seriam identificados de acordo com sua relevância em cada obra observada. Deste modo, os níveis não seriam fixos, mas seriam gerais, ou seja, eu poderia observar níveis parecidos ou semelhantes em outras obras. Na descrição de cada nível mais geral é necessário descrever como ele acontece e como se relaciona com os outros níveis. Entretanto, na transposição para a prática, o caminho se fez um pouco diferente, e houve uma mistura entre níveis mais gerais e outros mais específicos.

Beti compreendeu que poderia dividir Amarelo em três categorias de níveis: elementos, relações e evocações. As evocações, me parece, estão muito mais relacionadas ao processo de investigação do que ao resultado, mas Beti entendeu que seria interessante manter esta categoria. Ricardo, de forma diferente, criou diversas categorias para Quase Nu, e fez um esquema com esses vários grupos. Nas traduções, que tinham como fonte os próprios solos e como alvo diferentes mídias (vídeo, conto literário, desenhos, pão, breviário, fotografia) o exercício dos níveis foi interessante para tornar visível/material a relação entre o solo de dança e a sua tradução, o que torna possível monitorar a tradução. Creio que este método pode auxiliar criadores que estejam em diferentes fases de seu trabalho de criação. Entender o que a obra “mostra” ao público pode ser uma boa ferramenta para continuar elaborando o produto do trabalho criativo.

Daniella Aguiar

Notas:

1. João Queiroz [www.semiotics.pro.br] é professor do Instituto de Artes da UFJF onde coordena o Laboratório de Tradução Intersemiótica. Um dos textos que publicamos sobre o assunto está no link: http://idanca.net/lang/pt-br/2008/02/01/transposicao-e-recriacao/5231/

2. Transmutação de signos entre sistemas semióticos de diferentes naturezas, e.g. literatura  cinema, de acordo com Roman Jakobson.

Atualizando minhas andanças

Como eu e Beti estamos trabalhando separados nas próximas semanas, as conversas virtuais (com trocas de pensamentos e ações) devem se intensificar. Divido com todo mundo uma comunicação que a priori é para ela, mas que pode ser um jeito interssante de todo mundo acompanhar o que estou fazendo por aqui.

Querida, algumas coisinhas:

1. Minhas andanças amarelas:
Dentre as diversas coisas que fiz, finalmente assisti o "... e Deus criou a mulher" (estrelado pela Brigitte Bardeau). Ainda me sinto muito intrigado com diversas coisas que experimentei vendo e estou as amadurecendo para dividir de algum jeito com você. De qualquer forma algumas cenas e questões ecoam fortemente. Ela deitada na areia, os pés sempre descalços, os cabelos voando quando fica abandonada na estrada, a fúria da última dança. Além disso, duas expressões: "o futuro só serve para estragar o presente" e "Estou assustada - é difícil ser feliz!".
Me perdi lendo, vendo e investigando Tarsila, e ela vem com tudo! Rs... vamos ver.
Ah, tenho um pedidozinho pra te fazer... Você me manda o link para aquele olhar incrível da Anna Karina? Tentei encontrar mas não consegui...

2. Minhas andanças quase nuas:
Lembrei de duas referências que podem nos ajudar a cercar o bichinho!
Durante o processo todo lembro que algumas vezes te falei desses filmes, mas nunca foi importante o suficiente para vermos juntos, ou algo assim. No entanto agora eles voltam a povoar meus pensamentos. São eles:

MA VIE EN ROSE (minha vida em cor-de-rosa - Alain Berliner, 1997)
O que mais me encanta e interessa é o jeito que Ludovic revela suas intimidades, sua imaginação e seus desejos mais estranhos e descabidos. A naturalização do imoral, a simplicidade de ser o que se é (pq não há outro jeito de ser). E claro, a intensidade violenta de como tudo isso se relaciona com o mundo. Lindo! Vale a pena voltar pra ele.
Para você aquecer a curiosidade (pelo que me lembro você ainda não viu, né?)
site com informações
http://www.sonypictures.com/classics/mavieenrose/
clipe
http://www.youtube.com/watch?v=g0b0F8HAJgI
compacto com diversas cenas
http://www.youtube.com/watch?v=8J_bYqQE9Qc&feature=related

e

MY LIFE WITHOUT ME (minha vida sem mim, Isabel Coixet, 2003)
Este sei que você já viu... mas quem sabe vale a pena ver com olhos quase nus... rs...
Além de toda a história que por si já é bastante inspiradora, gosto em especial de duas coisas: 1. da interpretação da Sarah Polley, intensa mas simples, uma presença quase tensa, no limte do drama mas sem cair nele, o que penso que promove uma comoção diferente daquela dramalhona e apelativa (isso me interessa muito!!!); 2. da idéia de listar "coisas a fazer antes de morrer". Lembro de no meio da criação do quase nu ter feito uma lista de coisas pra fazer antes dos 30 (uma lista que nunca foi efetivada e também se perdeu com o caderninho... enfim...).
Links aí embaixo para um clipe e duas cenas que acho que falam um pouco disso aí encima. (as cenas estão dubladas em espanhol... não achei outras...)
clipe
http://www.youtube.com/watch?v=1KcaK3ovgcM
cena 1 (entre 3:30 e 7:27)
http://www.youtube.com/watch?v=asF6SSZQ1ns&feature=related
cena 2 (entre 3:25 e 5:15)
http://www.youtube.com/watch?v=TYOfLYt9gtY&feature=related

Em comum os dois tem uma coisa que REALMENTE me parece parte do quase nu. Ambos começam com "minha vida"... rs... aí tem aquela idéia de assumir uma autobiografia que discute assuntos que tocam muita gente! Será que eu vou chegar aí? ai ai.
Se for querer ver e conseguir locar você faz o favorzão de gravar pra nós? adoraria vê-los novamente na volta.

Outra coisinha: achei links para a Alice e para o Pinóquio:

Alice no país das maravilhas
http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/alicep.html

As aventuras de Pinóquio
http://www.scribd.com/doc/7172175/As-Aventuras-de-Pinoquio-Por-Carlos-Coload

Beijo,
Ricardo.

“Notes” para AS OBRAS DENTRO DA OBRA (Considerações da Nirvana - Post 2)

DR, discutindo a relação, problemas inevitáveis ou questões interessantes para criar corpo. Ao longo de nossos encontros, detectamos questões saborosas a este desafio e aqui as reúno:

- qual poder ainda resta para quem passa se não criar estratégias diversas para se aproximar do outro?

- eu e o outro fazemos parte de uma ficção: como roteirizar tais encontros?

- qual o pode ser escolha de quem recebe a obra do outro? Dentro de quais possibilidades? Quais caminhos percorrer e recriar dentro das relações propostas pelo outro? Também uma questão de aproximar universos.

- autor de qual parte da estória? A questão do autor é citada várias vezes!
Outras questões são de cunho estreitamente subjetivo (qual não é...?):

- o quanto você sabe da obra dele(a)? “O quanto você sabe de mim?”

- o quanto induzo você saber qual parte de mim?

- o quanto conduzo você comigo?

- permito embora não saiba te guiar da obra?

Uma última questão depois dos diagramas apresentados (ver post no blog com diagramas):

- o que dá coerência à obra? O que fecha?

- O que faz o outro entender de mim? Como me visto do outro para entendê-lo em mim?
Agora, questões cênicas:

- encontro constante com o momento de suspensão, de hesitação, de pausa ao se deparar com o outro (cena, pedaço, jeito de falar, de mover, de resolver a cena), sendo, claro, eu mesmo(a)

- momentos de tensão: preservá-los ou resolvê-los? E o que fazer com o conflito de se aproximar do outro em mim? “Não sei para onde ir agora”.

- transmissão é quando acontece algo no meio de nós dois, no vago, na negociação, no impreciso, na pergunta de aonde ir OU quando encontro um jeito (ainda que provisório)? O que vai aparecer na cena que reconstituir da obra do outro?

- quais são nossas escolhas estéticas: mostrar processo, gerar novas possibilidades cênicas para demonstrar conflito (por exemplo, palestra demonstração?!), compor novas obras (semelhantes, diversas, em qual nível?)?

- por fim e não menos acabado: o que é mesmo pesquisa de linguagem? Estratégia versus hipótese, pergunta versus solução científica (que lembro, é também provisória ainda que no tempo histórico seja ilusoriamente muito bem definida), processo versus caminho linear (também ilusória, qualquer pesquisa requer o vagar).

... Ficção é um estado de hesitação...

Nirvana.

“Notes” para AS OBRAS DENTRO DA OBRA (Considerações de Nirvana - Post 1)

4 a 8 maio 2009
Caieiras, São Paulo

Já que “o amor é coincidência rara”, como são raros colaborações artísticas que multiplicam questões fundamentais a cada um, e que este trabalho aponta para preciosidades do convívio artístico, nada melhor do que começar propondo:

1. Outros modos de dizer “eu te amo”

Em nosso primeiro encontro, apresentei minhas restrições (típico de um 1o encontro amoroso de pessoas que procuram relacionamentos maduros) quanto à palavra TRANSMISSAO, buscando entender o que isso quer dizer no contexto do projeto AS OBRAS DENTRO DA OBRA e para cada um de nós ali presentes. Para minha segurança, tinha lido o fantástico “post” da Michelle no blog como meu principal dever de casa para este encontro, além de claro, conhecer e estar de paquera com essas idéias artísticas e estes “caras” há muito, muito tempo.

Apresento, sorrateiramente, porque receios à palavra “transmissão”:

- transmitir tem fundo poço sem fundo na área da educação; uma vez que nosso corpo é feito de palavras que aprendemos como metáforas, a sugestão de alguém (que supostamente sabe mais) que pode transmitir algo para alguém (que supostamente sabe menos) me parece um pouco... injusta ao processo do saber, inclusive se envolvemos o corpo e suas histórias.

- transmitir pode sugerir caminhos “trans”, sem que seja só de ida e volta, que atravesse, que irrompa processos não lineares de passar algo para alguém; no entanto, nem sempre é levado em conta a complexidade dessas convergências, por tantas vezes divergentes.

- processos de comunicação não nasceram para serem simples códigos nem seguros caminhos de saída e chegada de “bits” de informação; se levarmos em conta isso nas artes do corpo e nos saberes dos movimentos, puxa, tudo fica bem mais interessante quando complexo.

- armadilhas existem para falar de complexidade; vejo algumas como a do poder-saber (bem Foucault mesmo), de corpos dóceis (mais Foucault na veia), de processos linearizados (simplificatórios), de processos de comunicar imaginando alcançar o todo (totalizantes ou totalitários).

Parece que receios aqui giram em torno de amores cruéis...

Para dar cabo, proponho, portanto, alguns sinônimos à palavra transmissão: transportar (mudar de posição) – transfigurar (mudar de figura) – contagiar (o prefixo con- também pode ser muito proveitoso) – transmutar (mutações inevitáveis) – transplantar (adora metáforas biológicas) – transar (por que não)
Ou seja, ficamos com o “trans”, que possa sugerir caminhos diversos àqueles de “ida-volta”, mas perdemos qualquer inocência de poder sobre a transmissão ou de fidelidade irrestrita.

Nirvana.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Diagrama Quase nu em 12 de maio




Sinto que chego cada vez mais perto do que me interessa no trabalho.
Abraço,
Ricardo.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Residência de trabalho no CED





Como já havia sido anunciado e programado para as atividades do projeto, estamos eu e Beti num momento muito intenso e especial do trabalho: estamos em residência no CED (Centro de Estudos em Dança) espaço proporcionado pela crítica de Dança Helena Katz, em São Paulo.

O espaço, numa fazenda localizada em Caieiras, na grande São Paulo, é inspiração só. Estarmos num espaço retirado nos faz olhar com calme a tempo para todas as questões que nos assolam nessa nova fase de trabalho, que metodológicamente estamos chamando de fase de transmissão, o que não é muito real, já que sabemos que as traduções continuam acontecendo.

Além da oportunidade de mergulharmos no trabalho sem a correria do dia a dia em Curitiba, aqui no CED contamos com a presença diária de Nirvana Marinho, nossa colaboradora aqui em São Paulo. Etamos no meio do terceiro dia da semana de trabalho e os dois primeiros foram bastante intensos. Neles pudemos atualizar nossas conversas de transmissão e já estabelecemos e experimentamos outras estratégias de compartilhamento dos trabalhos. Algumas questões que martelaram nossas reflexões nesses dois dias:

- que armadilhas a palavra TRANSMISSÃO carrega consigo e como fugir delas, ou lidar conscientemente com elas?
- onde está a potência de uma relação de transmissão? naquele que organiza o material a ser transmitido? no próprio material? naquele que recebe e resignifica o transmitido?
- que relações de poder estão em jogo num processo de transmissão? como sabotá-los e/ou subervetê-los e /ou jogar com eles?

A residência tem um tempo total de 5 semanas: uma semana com a presença dos dois, depois Beti volta para Curitiba e eu fico mais duas semanas, o que se inverte nas semanas 4 e 5.

Enfim, estamos trabalhando e logo postamos amis de nossas reflexões.
Ricardo e Beti.

DIAGRAMA QUASE NU


Também inspirado e incentivado pela semana de trabalho com Dani, atualizei e organizei informações que considero serem de vitais para que quase nu seja quase nu e formulei uma espécie de diagrama que localiza isso.

Assim como é o trabalho, o diagrama é uma colcha de retalhos de meus interesses (entendendo que uma colcha de retalhos não é necessáriamente um conjunto fraco de informações, como fomos habituados a pensar).

A tentativa de organizar um diagrama não tem, para mim, o objetivo de cristalizar temas, questões ou materiais. Pelo contrário é mais uma estratégia para conhecer melhor meu trabalho. Assim o que vocês vêem aí em cima é um retrato do diagrama no início de abril. Hoje ele já mudou. Tem novas urgências e deiou para trás algumas importâncias, assim como todo o processo de trabalho.

MUNDO AINDA SEM NOME








Tendo como ponto de partida o conceito visual desenvolvido em parceria com o publicitário-artista-diretordearte Aurélio Dominoni, que assina o conceito visual de Quase nu em sua versão "espetáculo", apostei na elaboração de uma experiência-pública que me coloca-se em situação para desenvolver uma tradução física.

Chamei a instalação de MUNDO AINDA SEM NOME e minha presença em meio a tal composição visual (que circunscreve um mundo específico e cheio de coisas um tanto líricas e ao mesmo tempo esquisitas e decadentes) aponta para mim diversas importantes questões conceituais e investigativas para o próprio quase nu - espetáculo quanto para as traduções e as estratégias de transmissão.

(créditos das fotos para a incrível e parceira Alessandra Haro)

terça-feira, 5 de maio de 2009

video-teste

"cabelo-saia"

Breviário.

A Galinha é um animal composto por um exterior e por um interior. Se tiramos o exterior fica o interior. Se tiramos o interior então podemos ver a alma. Repetir 3 vezes “Alma”. Calma. Colo, cama, camada, comida, começo. Caso. Canto. Desejo, descaso, desconto, descanso. Coqueiro. Quaresma. Fevereiro. Cócoras, culpa. Culpa, culpa. Calma. Palma, pele, pelo, pano, pardo, plano. Passagem, caminho, passarinho. Carinho. Um espinho, um espeto, uma flecha. Um revolver, uma revolução, uma prisão, um peso. Uma ação. Ferir, furar, dourar, amar. E por que durar seria melhor do que queimar? Seria um susto. Um suspiro, uma sombra, uma sobra. Um oferecimento, um lamento, uma carta de agradecimento. Uma conta, uma planta, uma placa. Um cabo, um gato, uma boca, uma bolha, uma borboleta. Um gato com uma borboleta na boca. Uma baba, uma bomba, e uma Brigitte Bardot.


Elisabete Finger
em amarelo

Abrindo o estudio




Do emaranhado de experiências de tradução feitas até o dia 04 de abril, selecionamos algumas para partilhar com um público que visitou o Cafofo naquele sábado à noite. A Dani falou um pouco sobre sua pesquisa em tradução intersemiótica, e sobre sua experiência com o projeto ,e [10 episódios sobre a prosa topovisual de gertrude stein] ,e nós espalhamos alguns experimentos pelo lugar. Para esta mostra consegui aperfeiçoar meu pão (com uma receita secreta que só quem comeu pode testemunhar) e com um formato de “ovo”, colocado numa caixa de ovo (dessas do tipo “granja”) e embrulhado num papel que, sujo de farelos, trazia meu breviário. Refiz meu “coração vodu”, que agora foi flechado pelas setas da besta e colocado sobre uma vitrola, e apresentei dois vídeos, ainda sem titulo, oferecendo um sofá de plástico amarelo para quem quisesse sentar e assistir. Nesta pequena seleção de materiais reconheço elementos e relações elencadas no diagrama “amarelo sistema multiniveis”. Vejo que as outras tentativas de tradução se distanciam um tanto da obra, mesmo que contenham elementos que a tangenciam, e que apontem alguns caminhos interessantes (tenho especial apreço por um pequeno vídeo que chamei de “cabelo” por falta de nome melhor, e que se der tudo certo deve aparecer nesse neste blog bientôt...).






CAIXA VERMELHA






Durante a semana de trabalho com Dani Aguiar, diversas questões vitais do processo de criação e da organização cênica de quase nu voltaram a tona para serem repensadas e re-elaboradas. Por uma insistência da Dani (obrigado querida), recuperei e voltei a me interessar por uma idéia específica de relação com o espectador: uma relação vouyerística, como se o trabalho fosse meu quarto, ou meus armários, e o público tem livre acesso a isso.

Tal relação se manifesta em diversas metáforas e organizações presentes em todo o trabalho, no entanto na abertura de estúdio testamos (ainda que depois que o debate já havia começado) oferecer uma de minhas caixas de recordações pessoais, que incluía uma enorme pilha de cartas, uma agenda-diário da adolescência, roupas de quando eu fui um bebê.

Algumas questões que ficam latejando no pensamento: isso é interessante de alguma forma? Quem abre minha caixa vermelha tem a chance de ver nisso alguma coisa além de mim mesmo? Que reflexões e sensações essa experiência provoca?